No ócio, eu leio livros. Quando estou amedrontada por esse estado imutável de repetição do mundo, eu leio livros. É quando a noite cai, quando o pôr do sol se ergue, resplendoroso, enquanto o mundo gira frenético: é quando eu leio livros.
Há algo em nosso interior biológico que nos faz, em um curto período dos dias, lembrar que também somos animais. Nesse momento, nessa crise biológica de auto reconhecimento, de uma espécie que se acha sempre a mais desenvolvida, é onde a Arte entra como salvação de espírito.
Não se é humano, torna-se.
Nesses momentos, a humanidade em nós fica vulnerável tanto que precisamos prová-la a nós mesmos. Por isso, eu leio livros. Livros são como um renascer esplendoroso a cada página, um acordar de um ser sensível e o adormecer do animal que existe em cada um.
Livros são historinhas de ninar que adormecem nossos monstros interiores.
Desde o princípio a até que o próximo dia não venha, a humanidade está fadada a se destruir, sem nunca se eliminar. Guerras vão eclodir, gritos de ódio serão esvaziados de gargantas corrompidas, nações vão ruir e outras surgirão, com tempo prévio de vida. Em meio a tudo isso, eu lerei livros.
Os prazeres mais efêmeros são deliciosos, os mais profundos, uma necessidade. Um fondue de chocolate é delicioso; ler Fernando Pessoa, ah, é necessário.
Quem nunca se sentiu pequeno ao ler um poema de Álvaro de Campos, quem nunca viajou pelos mistérios assombrosos e fascinantes de Agatha Christie, quem jamais sentiu o toque da noite traiçoeira cair em Mil e Uma Noites, ouvindo a voz de Scheherazade entoar a próxima história que salvaria sua vida! Ah, digam-me: como sobreviver sem tais coisas? Posso parecer uma romântica incorrigível, mas eu preciso tanto de pão como de histórias.
A Arte é o toque de liberdade em nossos corações. É a fantasia tão real, a que salva nossos dias e a que faz a vida ter sentido. Os matemáticos vão ter de me desculpar agora: os números são perfeitamente indispensáveis, as palavras, nossa inesgotável fonte de salvação.
A matemática é maravilhosa. A Arte, sublime.
Em suma, lerei livros. Seja o que for, aconteça o que acontecer. Estejamos em guerra ou paz. Livros são meu eterno motivo de estar viva.
Ana Laura Marins
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Laura
Meus parabéns pela sua excelência ao expor seus pensamentos e filosofias, o universo em que estamos habituados a existir, necessita de mais almas COMO a […] Read MoreMeus parabéns pela sua excelência ao expor seus pensamentos e filosofias, o universo em que estamos habituados a existir, necessita de mais almas COMO a tua. Um abraço de outra escritora de 15 anos Laura Read Less
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