Estamos todos nos adaptando

5 agosto, 2018

Darwin já dizia que os mais adaptados são os que sobrevivem nesse mundão onde água líquida vira gás, noite vira dia, semente vira planta e fogo vira cinzas. Vendo as coisas por essa perspectiva, é fácil perceber que as coisas se transformam o tempo todo e muito rápido. É assim com a natureza, é assim com as situações da vida e é assim com nós mesmos.

Estamos todos nos adaptando. A todo momento, 24 horas por dia.

Mas, é claro, nada pode ser tão simples. A vida não é como um simples adaptar do fogo, da água, da natureza. Somos complicados, nos atrapalhamos diversas vezes e mudar é algo que assusta as pessoas.

Mudar me assusta. Ninguém aprende a encarar mudanças, apenas se aprende a encarar a mudança que já está em curso na sua vida. Mudar significa deixar para trás o caminho antigo, as certezas tão certas… É encarar o nada, e ter que recomeçar dali.

Ando carregando um sentimento estranho no peito. É quase um furo, como um cano vazando água. Consigo ouvir as goteiras entre uma palavra e outra. De algum jeito meio suspeito, eu sei que ele estava enclausurado em mim o tempo todo e não faço a mínima ideia de como estancar o vazamento antes que inunde. Queria ter as certezas de antes.

Entrar para o Ensino Médio me marcou muito. Não ver ensino fundamental II  no topo das provas me assustou um pouco, além de ter que pronunciar as palavras “ensino médio” toda vez que alguém pergunta em que ano estou da escola. Era isso: mudança. Eu já não era uma garotinha de 14 anos, e sim uma adolescente, cheia de emoções complicadas e com as certezas deixadas para trás, tentando desesperadamente redescobri-las. Isso, creio eu, chama-se “crescer”.

Ah, crescer… A mudança mais conhecida no mundo. É também a mais difícil de aceitar em determinado momento da transição, quando ainda não se sabe direito o que te espera. Tem um monte de gente que te pede para crescer, mas ninguém te diz como.

Agora, posso contar? Não é para ninguém contar mesmo. Essa é uma daquelas coisas superimportantes que a gente tem que descobrir sozinho, por conta, levando pedrada da vida na cabeça e uns “chega pra lá” de vez em quando.

—É assim que funciona: você cresce e o espaço aí dentro do peito também.

—Mas esse vazio me incomoda.

—E quem não se incomoda?

A gente se incomoda até decidir o que é melhor fazer com esse novo espaço disponível. E, ah, quando você descobre… É libertador. É dar a largada do novo começo, sair da estaca zero e sentir que está pronto para correr a maratona.

Quando você acaba de correr, um novo começo está te esperando. E começa tudo de novo, até você descobrir, mais uma vez, como reaprender a correr.

São 10 da noite, o céu já está escuro e estou na minha janela, observando como todo mundo vai e volta o tempo todo, se adaptando eternamente a mudanças que não podem escolher.

Tem hora que o mundo para. Outras, sai em disparada. Acho que o importante é sempre tentar chegar em algum lugar, não importa se você sabe onde é ou não.

Agora, espero ansiosamente meu coração entrar em conflito com a minha cabeça mais uma vez, contestando mais uma mudança. Eles gritam, choram e, no final, eles se entendem.

Eles tinham razão.

Ana Laura Marins

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All comments (2)
  • viviane_angela
    9 agosto, 2018 at 14:14

    Ai meu Deus que fofura. Eu amo tudo o que você escreve!

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  • Laura
    15 dezembro, 2018 at 22:30

    Você se expressa muito bem em meio à seus escritos. Parabéns Laura

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