Somos feitos de histórias

Os cientistas dizem que somos feitos de átomos, mas um passarinho me diz que somos feitos de histórias.

~Eduardo Galeano

Hoje é quinta-feira, e não posso negar que acordei meio deprê. Estava cansada, com olheiras e uma dor de cabeça alucinante, além de ter que aguentar mais alguns sorrisos falsos de toda manhã. Me perguntava também como eu correria contra o tempo para estudar para QUATRO provas de amanhã, incluindo química. Com suas células, átomos e um monte de coisa que eu teria que relembrar só hoje. Concluindo: eu estava uma pilha.

Só que, para a minha sorte, eu tinha aula de redação, e sabia que, depois dela, tudo pareceria mais bonito e faria sentido. Essas aulas têm esse efeito em mim: me relaxam. Minha professora é uma das pessoas que eu mais admiro nesse mundo, as aulas são um tempinho de paz. Eu amo quintas-feiras.

Por um motivo inexplicável, o tópico “tempo” surgiu nos nossos devaneios dessa tarde. Acompanhadas de um delicioso suco de uva natural adoçado com açaí, divagamos sobre como “vencer” o tempo e se tomar Toddynho de manhã seria o segredo da felicidade. Como podem ver, dois assuntos importantíssimos e que deveriam ser tratados em conversas com mais frequência.

Ao final disso tudo, chegamos a uma conclusão de como escapulir desse “monstro” escravizador que é o tempo: histórias. Tão somente a pura arte de contar boas histórias e recebê-las. Se deliciar com cada momento de bravura, chorar cada morte, vivenciar na pele do herói todos os desafios sem nem ao menos sair do sofá.

Krishna, Jesus, Buda… Todos eles passavam seus ensinamentos através de histórias, ou eles mesmos são histórias. Que diferença faz? Lázaro continua ressuscitado, Apolo continua a encantar até mesmo as pedras com sua harpa. Perséfone continua presa no submundo por meio ano, e todos eles vivem em um lugar nada menos que real: nossa alma, nosso coração e nossa vida.

O sol brilha essa tarde, as folhas balançam ao toque do vento e tenho certeza que os mitos trazem a preciosa libertação do finito para a imensidão da infinidade. A necessidade quase animalesca de saciar a alma com histórias, se preencher com cada mito e sentir-se herói da própria jornada: isso é estar vivo.

A aula de química me vem à cabeça. Um certo professor me afirmou que todos somos feitos de átomos e, exatamente por esse motivo, não me preocupo com a prova de amanhã.

Afinal, se me perguntarem nesse teste do que nós somos feitos, eu responderei que somos feitos de histórias. Depois eu vou apagar e vou escrever átomos, porque é isso que a ciência espera que eu responda.

Ahhh, a ciência… Tão maravilhosa e tão tola.

Ana Laura Marins

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